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DESRAMA DE ÁRVORES PARA SERRARIA: ATÉ ONDE ELA VAI?

Eduardo Stehling – Biólogo responsável pelo projeto de melhoramento do Cedro Australiano da BV Florestal

(Faça o download do Artigo em PDF abaixo.)

Todos já ouvimos a informação de que árvores que passaram pela operação de desrama valem mais que árvores não desramadas. Fato ou mito? Neste texto continuarei discutindo a questão da desrama em árvores para produção de madeira serrada.

Conhecer a finalidade da madeira antes de iniciar um projeto florestal é fundamental para o sucesso. Existem usos no qual a desrama agrega valor e usos que não. Na madeira usada em movelaria, forros e acabamentos para construção civil a desrama é necessária. Florestas destinadas à produção de celulose e energia já não necessitam de desrama. É muito importante pesquisar se quem comprará a madeira pagará a mais pelo diferencial. A desrama por exemplo não influencia na qualidade ou preço da madeira serrada para paletes e embalagens.

Muitos clones de eucalipto apresentam um fenômeno conhecido como desrama natural, que trata-se da mortalidade dos galhos formados na estação de crescimento anterior. Este termo freqüentemente engana o silvicultor, que acha que pelo fato dos galhos terem morrido, não precisa retirá-los, já que ocorreu uma “desrama natural”.  Como já discutido no artigo anterior, estes galhos mortos devem ser urgentemente removidos, pois são eles que formarão nós na madeira.

Nas madeiras de alto valor agregado, como cedros, mognos, teca, etc, a desrama é imprescindível devido à finalidade que a madeira terá e não deve faltar no planejamento. O custo da desrama está ligado à cultura utilizada, pois cada espécie tem seus pré-requisitos. Realizar a desrama do chão com um extensor de alumínio reduz os custos e o risco operacional e simplifica muito a operação. Florestas seminais oferecem maior dificuldade e custo, enquanto em florestas clonais a uniformização otimiza muito o processo. Algumas espécies como a Teca e um tipo de mogno africano (Khaya senegalensis), apresentam madeira muito dura e com muitos galhos de grande diâmetro na inserção do tronco, sendo esta uma desrama de maior dificuldade. Outras como o cedro australiano (Toona ciliata) e o mogno africano (Khaya ivorensis) apresentam madeira mais leve o que facilita a operação. O eucalipto é uma espécie com grande exigência de desrama, pois possui muitos galhos finos para serem podados. O cedro australiano é uma espécie com necessidade média de desrama, mas que é simplificada devido a madeira macia e à uniformidade de brotações que os clones proporcionam.

Mas onde podar os galhos afinal? É rente ao tronco? Deixo um “cabide”? Tem uma espessura certa? Cada caso com suas particularidades, usarei como exemplo o cedro australiano. A regra básica é nunca exceder 35% do volume de copa (massa de folhas) se não quiser mortalidade de raízes na planta. Plantas que tem a copa suprimida tendem a superbrotar após o evento de poda drástica.

Muitas espécies possuem estruturas bem visíveis na base dos galhos conhecidas como crista e colar. Em galhos mais velhos e que já não contribuem tanto para a planta, a crista e o colar se desenvolvem num processo de antecipação da perda do galho. Deixar cabides nem pensar!!! Já o corte muito rente remove estas estruturas, atrasando muito a cicatrização dos ferimentos, o que pode prejudicar a madeira produzida. O correto é deixar pelo menos metade delas, pois o ferimento é menor e se recupera mais rápido.

São necessários em média 3 anos para desramar o cedro australiano para obter um fuste comercial de 7 m livre de galhos. O normal é que neste período ocorram pelo menos 3 operações de poda. Deve-se realizar poda leve de condução do cedro, especialmente entre 6 e 11 meses de idade. A segunda e terceira poda são mais pesadas e devem ocorrer aos 18 e 30 meses, sempre de baixo para cima e respeitando o limite de 35% de volume da copa, mantendo nas plantas os galhos jovens e recém formados para que ela continue com o crescimento.

É muito discutida a questão de até onde deve ser realizada a desrama no fuste. Isto depende do uso que a madeira terá, da forma como ela será cortada. Sugiro sempre que na condução da árvore sejam considerados 10 cm de toco e entre 10 e 15 cm de janela de corte com a motosserra, representando partes que serão perdidas nas plantas no momento da colheita. Ou seja, o fuste se inicia de verdade a 25 cm do chão. A partir daí podem ser consideradas duas toras de 3,2 m, totalizando 6,4 m. Isto mostra que uma desrama bem conduzida deve alcançar até 6,65 m de altura no tronco. Outras finalidades para a madeira como a laminação, podem demandar desrama acima de 6,65 m. Entretanto é necessário considerar que a operação desta natureza se torna inviável devido ao uso de escadas ou veículos de apoio, que atrasam e oneram o produtor muitas vezes sem agregar valor.

Quem tiver mais interesse sobre o tema, é aconselhável buscar a recente norma técnica ABNT/CEE 103, que regulamenta sobre o manejo de árvores, arbustos e outras plantas lenhosas em áreas urbanas, sendo esta uma leitura indispensável. Busque informações sobre desrama na espécie que cultiva antes de fazê-la em seu plantio. Isto pode reduzir seus custos e riscos, aumentando a rentabilidade da cultura.

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