SOBRE A CULTURA
A cultura do cedro australiano (Toona ciliata var. australis) possui enorme potencial econômico no mundo, visando à produção de madeira serrada de alta qualidade. Os principais produtos do processamento de suas árvores são pranchas, tábuas e sarrafos, sendo a lenha, cavaco e pó, subprodutos obtidos durante o desdobro da madeira. A espécie também possui alto potencial para produção de fitoquímicos, sendo as moléculas do grupo químico dos terpenóides as principais substâncias bioativas obtidas nas plantas.
Pertencente à família Meliaceae foi explorada até sua exaustão econômica e genética na Austrália e Ásia e atualmente é uma das espécies arbóreas mais ameaçadas de extinção no mundo, segundo relatório divulgado pela Cabi.org Forestry Compendium. O grande interesse pela espécie vem de sua grande beleza (coloração variando entre amarelo claro, marrom e rosa avermelhado), acabamento fino, leveza e trabalhabilidade. Estas são características comuns entre plantas da família, como o cedro e mogno brasileiros.
A espécie foi introduzida no Brasil em 1973 pela então Aracruz Celulose no estado Espírito Santo. Em 1989 foram distribuídas mudas para produtores, escolas agrárias e interessados no estado, iniciando-se assim o desenvolvimento de plantios no Brasil.
A premissa básica para a introdução da espécie é o fato do cedro australiano apresentar alta resistência natural ao ataque da broca dos ponteiros, a mariposa Hypsipyla grandella, responsável por inviabilizar a produção de meliáceas nacionais como o cedro rosa nativo (Cedrela fissilis) e mogno brasileiro (Swietenia macrophylla). Sua larva cria galerias na brotação apical das plantas, o que impossibilita a formação de fuste comercial após o plantio. A madeira do cedro australiano apresenta enorme semelhança com o cedro e mogno brasileiros, principal razão de sua imediata aceitação de mercado e alto valor comercial que vem atingindo no país.
Em 2002 a Bela Vista Florestal passa a ser parte dessa história. A empresa fundada pelos irmão Ricardo e Erika Vilela, teve como objetivo original investir em florestas de eucaliptos e produzir mudas florestais com a criação de um viveiro, tendo em seu portifólio a produção de mudas de árvores nativas e eucalipto clonal. Após seu primeiro contato com o cedro australiano, percebeu imediatamente seu potencial econômico e iniciou o caminho que a tornaria referência internacional pelo trabalho no melhoramento genético da espécie.
Até então, apesar do enorme potencial da cultura, o material multiplicado através de sementes apresentava grande desuniformidade nas principais características silviculturais, como forma, altura, diâmetro, resistência à pragas e doenças e manejo das florestas plantadas. A falta de procedência e qualidade das sementes comerciais disponíveis no país, agravada pela falta de conhecimento técnico e científico básico sobre a cultura, levou a Bela Vista Florestal em 2006 a buscar estratégias de melhoramento genético para continuar trabalhando com a espécie.
Surge em 2006 o Programa de Melhoramento Genético do Cedro Australiano, iniciativa da Bela Vista Florestal com o apoio de instituições como a agência de pesquisa australiana CSIRO, a UFLA -Universidade Federal de Lavras, o Instituto Estadual de Florestas – IEF/MG, entre outras. Com o objetivo de melhorar o cultivo do cedro australiano, foram criadas linhas de pesquisa em melhoramento genético, nutrição, produção de plantas, fitopatologia, manejo integrado de pragas, manejo florestal, silvicultura e tecnologia e qualidade da madeira, a fim de gerar informações técnicas e científicas.
A reintrodução da espécie no Brasil para fins de melhoramento genético foi fundamental na transformação do panorama existente, com a importação de 101 matrizes de 16 origens existentes ao longo de toda a costa leste do continente australiano, área de ocorrência natural da espécie.
Atualmente existem 6 cultivares (clones) da espécie desenvolvidos pela Bela Vista Florestal e registrados no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Estes, aliados ao conhecimento e base bibliográfica gerada pelas diversas linhas de pesquisa realizadas, elevaram a cultura a um nível tecnológico que proporciona segurança ao produtor, com ganhos de produtividade de madeira entre 200 e 300 % a mais que o material comercial, resistência à pragas e doenças e maior capacidade de adaptação em diferentes sítios, transformando a cultura do cedro australiano. A empresa continua investindo no desenvolvimento de novos materiais.
Em 2014, a madeira do cedro australiano chegou ao mercado nacional. A comercialização de madeira serrada através de pranchas, tábuas, forros e sarrafos, vem validar as expectativas existentes e mostrar a beleza e o potencial da espécie, com um portifólio de clientes de peso. Foi lançada em 2015 a Austral, uma linha de produtos de decoração e utensílios feitos de madeira maciça de cedro, aliando o melhor da espécie com o excelente trabalho de design do estúdio mineiro Barral e Lamounier.
Nas próximas sessões, você obterá uma síntese das informações geradas pelo Programa de Melhoramento, com informações atualizadas sobre o cultivo da espécie. Se precisar, sinta-se à vontade para entrar em contato conosco.
Tenha uma boa leitura.
Eduardo Stehling
Biólogo e gestor do Programa de Melhoramento do Cedro Australiano