A Bela Vista Florestal é presença confirmada no…
PORQUE A INDÚSTRIA PRECISA DAS ESPÉCIES ALTERNATIVAS
Por que a indústria brasileira quer e precisa da madeira de espécies alternativas
Eduardo Stehling
Biólogo e gestor de melhoramento e produção da Bela Vista Florestal
pesquisa@belavistaflorestal.com.br
Desde dezembro de 2014, quando a Bela Vista Florestal iniciou o processamento da madeira de cedro australiano, tenho trabalhado com desdobro, processamento e secagem de madeira. Aprendi muito nesse período, mas a experiência que quero passar neste texto é sobre aspectos de mercado e minha conclusão: porque a indústria brasileira quer e precisa da madeira de espécies alternativas.
Uma das principais razões para se trabalhar com madeira serrada de alternativas no Brasil tem cunho ambiental: a conservação de nossas florestas, cuja exploração já levou à extinção de várias espécies em nível econômico e genético. E a melhor forma de quebrar a cadeia de exploração da madeira nativa é a conscientização de que podemos usar outras madeiras. O consumidor tem o poder de interferir na produção e uso da madeira na indústria quando ele altera seus padrões de consumo, escolhendo opções ambientalmente corretas.
Essa é uma decisão natural e depende da conscientização do consumidor, que hoje já opta pela alimentação saudável, orgânica, pela coleta seletiva do lixo e uso de energia limpa por razões óbvias. Falta o envolvimento de nosso governo, indústria e educadores.
A história
A exploração da madeira serrada ocorria de forma difusa no Brasil. Seja nos biomas locais ou na Amazônia legal, a madeira era processada regionalmente onde era consumida, independente da origem. O setor era marcado pela falta de regulação e pela ineficiência, o que resultou em desperdícios da madeira, logística ineficiente e gerou desmatamento em larga escala no País.
Atualmente, o processamento de madeira está polarizado principalmente nas regiões produtoras (Norte e Sul do Brasil), que enviam pranchas já serradas para os demais Estados. Mais organizado e eficiente, o mercado ainda arca com custos de distribuição dos produtos, que são consumidos em todo o território nacional.
Existem diversos tipos de barreiras para a regulação do corte, processamento e comercialização da madeira nativa serrada, seja por meio da pauta mínima, guias de corte, documento de origem da madeira, variações nas legislações estaduais, entre outros procedimentos cabíveis para fiscalização e legalização.
Mesmo assim, a exploração ilegal ainda ocorre em nosso país. Enquanto houver demanda por espécies nativas, o corte legal ou ilegal continuará acontecendo, muitas vezes alheio às possibilidades que já existem para desenvolver um novo cenário florestal no pais.
O futuro
Quando olhamos para o mercado produtor de madeira serrada no Brasil, vemos um segmento que pode ser dividido em dois grupos: produtores de madeira nativa e produtores de madeira plantada, onde estão localizadas as espécies alternativas. Estas são fomentadas principalmente por produtores de mudas, que defendem sua espécie florestal muitas vezes sem base e conhecimento técnico para tal, o que cria uma enorme confusão na cabeça dos silvicultores que se interessam pelo negócio.
Afinal, o que eu planto? Como eu planto? Onde eu planto? Vale quanto? Custa quanto? Isto atrapalha muito e os silvicultores muitas vezes ficam inseguros devido às dúvidas e por não receberem o acompanhamento necessário em meio ao turbilhão de fornecedores e espécies. Falta, na verdade, uma maior organização deste setor de base, de intensa política pública e de uma sinalização mais direta por parte do mercado, que talvez ainda não percebeu o enorme potencial que as espécies alternativas possuem.
Florestas alternativas
Atualmente temos no Brasil muitas espécies florestais chamadas de alternativas, com diferentes madeiras para variados usos, diferentes parâmetros técnicos, adaptação em condições edafoclimáticas, coloração, desenhos, etc. Com maior nível tecnológico temos eucaliptos e pinus (já consolidadas), cedro australiano e teca. Existem também diferentes espécies de mogno, acácia, paricá, entre outras. Com esta diversidade, tipos e usos de madeira, é fácil pensar em coexistência das espécies quando o assunto é indústria. A diversidade de espécies oferece a possibilidade de adaptação na transição entre madeira nativa e madeira plantada.
O contato com empresários, designers, profissionais e indústrias mostra que grande parte já busca alternativas. São várias as razões: dificuldade de obter um tipo de madeira; irregularidade na distribuição; ausência de padrão; evitar a ilegalidade; a ausência de certificação; ausência de secagem; custos de transporte, entre outras questões.
A crescente necessidade de busca por uma madeira que possa oferecer segurança para a empresa também mostra claramente que o mercado produtor de madeira nativa não está conseguindo mais atender à cadeia produtiva. Umas das queixas mais comuns é a irregularidade na distribuição de uma espécie e a falta de padrão de qualidade.
Agregado de valor
Desde 2015 a Bela Vista Florestal fez contatos e negócios com empresas de várias partes do Brasil. Empresas atuantes no setor de movelaria; no setor de instrumentos musicais; na indústria naval; no setor de alimentos; dezenas de representantes comerciais de diversos Estados e polos madeireiros; empresas do setor de esquadrias (portas e janelas); comércio exterior, interessados na produção de madeira, produção de objetos, designers, etc.
A indústria consumidora de madeira nos mostrou que existe sim um forte interesse e grandes oportunidades para o uso das espécies alternativas no Brasil e no mundo. Para isso se concretizar é necessária apenas a madeira disponível no mercado, seca e processada em bitolas comerciais, com padrão, regularidade e origem. Falta muito investimento em plantios e amparo aos produtores. O uso das madeiras alternativas é o futuro do setor madeireiro e isto é estratégico para nosso país.
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