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IMPLANTANDO FLORESTAS DE CEDRO AUSTRALIANO

Eduardo Stehling, Biólogo e gestor de melhoramento da Bela Vista Florestal

Uma das etapas mais importantes numa floresta de produção é a sua implantação. É neste momento que todo o planejamento realizado ganha forma, dando início ao cultivo propriamente dito. Até então, as etapas de preparo de solo, controle de formigas e correções não envolviam cuidados com a muda florestal.

O objetivo deste texto é descrever tais cuidados, apontando algumas diferenças entre o plantio de cedro australiano e outras espécies como o eucalipto, visando orientar o produtor para que obtenha sucesso na atividade.

Plantar cedro australiano é fácil. Basicamente não se diferencia das outras culturas. Basta retirar a muda do tubete e com o auxílio de um chucho ou matraca de plantio colocar a muda no solo, firmar a terra e pronto, está plantado!

Entretanto sabemos que em um plantio florestal o sucesso está nos detalhes e não no convencional. Cada cultura tem seus pormenores e com o cedro australiano não é diferente.

Implantando florestas com cedro australiano

Considerando plantios florestais de um modo geral, a fase de pré-plantio que envolve a escolha da área, análises e correções de solo, o controle de formigas, etc, são atividades que devem ser iniciados com antecedência mínima de 5 meses para evitar falhas pós-plantio.

O cedro requer atenção especial na correção de solo, que pode ser facilmente recomendada através da interpretação de análises de solo feitas com amostragens de solo adequadas.

A pesquisa por materiais genéticos adequados deve considerar a finalidade do plantio e a região onde ele ocorrerá. Contratar com antecedência mudas de qualidade, provenientes de bons fornecedores, gera segurança para o empreendimento e garante que as mudas estarão disponíveis na hora certa. Da mesma forma, a contratação da mão de obra necessária para o preparo de solo e plantio não deve ficar para a última hora.

Atualmente existem materiais genéticos clonais de cedro australiano para diferentes regiões bioclimáticas e com produtividade muito superior ao material genético produzido por sementes. As florestas clonais possuem árvores com maior diâmetro, forma florestal mais adequada para serraria e resistência superior à pragas e doenças existentes na cultura.

Época do plantio

A dessecação, a subsolagem, o coveamento e a fosfatagem da área devem ser feitas mais próximas da época do plantio, sendo fundamental para o enraizamento.

Sabe-se que quanto mais próximo da data do plantio o fósforo for administrado, melhor será seu aproveitamento. Durante o plantio não deve haver mato nas covas ou sulco. Herbicidas pré-emergentes podem garantir isso, permitindo que o local esteja limpo na hora de plantar as mudas.

A recepção das mudas no local do plantio deve ser feita somente após todo o preparo de solo ter sido realizado e estas devem ser acondicionadas em viveiro de espera previamente construído a pleno sol.

Deve ser uma estrutura simples e barata feita de eucalipto ou bambu e tela, que fará toda a diferença em casos de veranico, pois permitirá acondicionamento e irrigação adequados sem perda de qualidade.

Vale a pena ressaltar que após o recebimento, as mudas devem ser plantadas o quanto antes para evitar que a falta de nutrição, manejo inadequado da irrigação e outros fatores que podem ocorrer enquanto aguardam no viveiro de espera venham a prejudicar a qualidade das plantas adquiridas.

Em muitos casos é importante tratar o sistema radicular das mudas com solução cupinicida, para evitar que estes insetos comam as raízes das mudas logo após o plantio. Isto deve ser feito antes de plantá-las, imergindo apenas o substrato na solução.

Preparação

Este procedimento pode ser feito com ou sem o tubete, sendo esta decisão dependente do tipo de tubete, da espécie, da operação montada ou do tamanho do plantio.

Para maior sucesso o substrato deve estar bem drenado para boa absorção da solução. Optando por retirar o tubete antes do tratamento, o sistema radicular deve estar vigoroso, com raízes claras e bem agregadas ao substrato, impedindo que o torrão se desfaça.

É comum associar a esta operação o uso do adubo MAP (Fosfato mono-amônico) para estimular o desenvolvimento das raízes na cultura do eucalipto. Para o cedro esta associação com MAP não é recomendada, sob o risco de salinização do substrato e queima da folhas.

A retirada dos tubetes também é um ponto importante, pois é o momento em que as mudas sairão de seu invólucro. Mudas com sistema radicular muito vigoroso podem sair com uma certa dificuldade dependendo do volume do tubete.

Plantio

Também é normal ter que cortar o excesso de raízes na extremidade para que a muda saia do tubete mais facilmente. Para retirar a muda, basta segurá-la pelo tubete e bater firme de 3 a 5 vezes em sua borda superior. Forçar a saída, bater o tubete segurando no tronco da muda, apertar o tubete para soltar as raízes, etc, normalmente resultam em danos que aparecerão mais tarde como mortalidade ou desuniformidade no plantio.

No plantio manual, o chucho pode ser feito com o próprio tubete e um pedaço de madeira. O furo deve ser feito no centro do sulco ou cova, na posição correspondente ao espaçamento definido. A muda deve ser plantada na vertical e o furo deve ser feito na mesma profundidade do torrão da muda, nem mais raso, nem mais fundo.

Quando colocada, a muda deve entrar livremente, sem ser forçada, e deve ser plantada nivelada ao solo com apenas uma discreta quantidade de terra sobre seu colo. Mudas enterradas consistem num defeito de plantio conhecido como afogamento e posteriormente evoluem para a queima de coleto durante veranicos.

Mudanças climáticas

Com as mudanças climáticas e a variações no regime de chuvas, é importante estar preparado para a ocorrência de veranicos. A ocorrência de dias com altíssimos níveis de radiação solar e déficit hídrico acentuado ainda na fase de implantação também tem se tornado cada vez mais comum.

Em períodos sem chuva, irrigações de 3 a 5 litros de água por planta repetidos a cada 4 dias em média podem se fazer necessárias para garantir o enraizamento das mudas, sendo o primeiro mês a fase crítica para seu estabelecimento.

A irrigação associada ao uso de protetores de mudas e /ou gel de plantio tem ajudado muito na sobrevivência e estabelecimento das plantas em condições adversas.

Tanto as mudas quanto as árvores adultas de cedro são caducas, ou seja, perdem as folhas em situações de estresse hídrico. Pode acontecer de mudas de cedro perderem totalmente as folhas, reenfolhando em seguida.

É a resposta natural da planta ao lidar com a falta d’água, reduzindo drasticamente seu processo de transpiração. As novas folhas emitidas após este comportamento comprovam o enraizamento das plantas. Mudas sem folhas demonstram seu vigor através da observação da gema apical da muda.

Adubação

Em muitas culturas a adubação de plantio fosfatada é feita imediatamente após o plantio em covetas laterais no sulco. Esta não deve demorar muito para a muda não perder o estímulo inicial para o enraizamento e estabelecimento.

Especialmente após o plantio é comum que o controle de formigas cortadeiras se intensifique. Nesse momento também se inicia o controle de mato-competição. Neste processo podem ser usados herbicidas seletivos pré-emergentes, muitas vezes pulverizados até mesmo sobre as mudas (não se aplica para o cedro!), ou ainda aplicando o glifosato no entorno da muda.

Este controle possibilita fazer as adubações de cobertura em áreas livres de mato-competição, especialmente braquiária, permitindo um pleno desenvolvimento das mudas. Esta etapa é uma das mais importantes após o plantio, pois somada a outros fatores será determinante para o arranque inicial que a floresta apresentará.

Porém, mudas de cedro são sensíveis a herbicidas, que não devem nunca ser pulverizados sobre elas. Recomenda-se cautela na aplicação para evitar deriva no uso do glifosato no cedro, sendo o haloxifope a molécula mais adequada para o controle da braquiária na cultura.

Esta pequenas variações abordadas para a cultura do cedro australiano fazem a diferença. Fazer e seguir um bom planejamento, não pular operações e estar atento à cultura e suas particularidades é o segredo para o sucesso.

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