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DESRAMA DE ÁRVORES NA PRODUÇÃO DE MADEIRA PARA SERRARIA: INIMIGA OU ALIADA?
Desrama de árvores na produção de madeira para serraria: inimiga ou aliada?
Eduardo Stehling, Biólogo da Bela Vista Florestal.
Quando o assunto é produzir madeira para serraria, independente da espécie cultivada é inevitável que em algum momento apareça a recomendação: “Tem que fazer desrama”. A desrama ou poda de galhos até hoje é um assunto tão controverso e enigmático que dependendo do tom que for utilizado para sugeri-la, pode entusiasmar ou afastar o produtor interessado. O objetivo deste texto é ajudar a desmistificar as operações de desrama e ajudar os produtores que tem interesse em produzir madeira para serraria.
Precisa-se fazer a desrama. Mas e agora? E se eu não podar? Quanto que eu tiro? Quando eu tiro? Onde que eu corto? Preciso passar alguma coisa? Até que altura? Até qual idade? O que eu faço com os galhos? Cortei demais? Estas são apenas algumas dúvidas que rondam os produtores de madeira, que quando associadas com a falta de conhecimento técnico sobre o manejo das diversas espécies existentes, normalmente terminam em prejuízos para o silvicultor iniciante. Como produtor, me iniciei nesta atividade à 8 anos e passei pelas mesma dúvidas na cultura do cedro australiano, trabalhando inicialmente no material seminal. Hoje com a chegada dos clones, a desrama ficou muito simplificada na cultura. A fim de compartilhar o que aprendi e ajudar a formar o bom senso do produtor em relação à esta operação, começaremos do básico.
Normalmente na produção de madeira pra serraria, a parte mais nobre do tronco é destinada à produção de pranchas. O valor agregado na madeira serrada é maior se esta não apresentar nós, que nada mais são do que parte de galhos mortos que foram englobados durante o crescimento diamétrico da planta. Os nós, em decomposição ou não, se desprendem facilmente na seção da tábua deixando nesta furos. Isto ocorre principalmente devido ao revestimento de casca morta do galho que também é englobado. Nós causados por galhos mortos são muito comuns na madeira de pinus conseqüentemente usada para caixotaria.
Então tem que ficar claro: são os galhos mortos que causam os nós, sendo prioritário tirá-los, e não os galhos vivos. Galhos vivos aumentam o volume de copa das árvores influenciando diretamente na sua produtividade, e conseqüentemente o incremento diamétrico abaixo deles. Com maior volume de folhas, haverá mais área fotossintética, mais transpiração na planta e mais raízes. Será maior o transporte de nutrientes e o diâmetro do tronco. Simples assim. Quase todas as espécies de árvores produzem galhos em sua arquitetura e para uma boa saúde das plantas devemos aceitá-los como aliados e não inimigos. Enquanto o galho ainda está vivo, existe madeira sendo formada onde ele está inserido.
A verdade é que tudo melhora para a planta quando ela tem galhos. Mas aí surgem os equívocos. Expressões mal compreendidas como “o broto é ladrão”, ou “este galho está roubando a força da planta”, muitas vezes colocam galhos vivos com um status pior do que dos galhos mortos. Afinal, o que é melhor: deixar ou tirar os galhos? Galhos vivos representam problemas para árvores apenas quando eles influenciam na forma do tronco. Afinal, a planta tem que ser retilínea. Se a planta bifurcar ou perder a forma, entortar devido a um ou mais galhos desequilibrando a copa, haverá diminuição do rendimento. Nestes casos os galhos devem ser retirados.
De forma geral, após alguns anos fazendo desrama e acompanhando produtores ficou claro pra mim que a obsessão em desramar pode acabar com plantios inteiros. O maior medo dos produtores é que sua madeira apresente nós e tenha o valor esperado reduzido. O segundo maior medo é deixar que os galhos se desenvolvam, pois assim precisará tirá-los maiores e mais grossos. Estes medos infundados podem trazer conseqüências ruins. É muito comum entre os produtores fazer a desrama excessiva em plantas com diâmetros inferiores a 5 cm, entre 6 e 18 meses de idade. Plantas que ainda não possuem madeira tem qualquer impulso de brotação combatido. É quase como se os galhos fossem carrapatos em um rebanho bovino. Quando esta desrama acontece, ocorre uma perda de vigor generalizada e destrutiva ao plantio, pois é entre 10 e 16 meses que está um dos principais saltos de crescimento das plantas. É entre outubro e abril que ocorrem as chuvas e temperaturas adequadas para o crescimento das árvores, não sendo recomendado fazer a desrama nesta época.
O produtor muitas vezes fica sem entender, se perguntando: “porque as plantas não crescem, eu adubei tanto”. Sem aumento da copa não há aumento das raízes de absorção e a planta não apresenta transporte de nutrientes eficiente, muitas vezes mal crescendo. A implantação fica prejudicada por interferência do produtor. Já vi casos em que o plantio todo morreu devido a desramas obsessivas até o 3º ano da floresta.
Nas próximas edições vou abordar outros aspectos relacionados com a desrama para serraria, discutindo onde cortar os galhos e até que altura a desrama deve ser realizada. Até lá.
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