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A SECAGEM E OS DESAFIOS DA QUALIDADE DA MADEIRA.

Eduardo Stehling, biólogo e pesquisador da Bela Vista Florestal.

Produzir madeira para serraria é uma atividade que vem atraindo cada vez mais investidores. Muitos produtores estão interessados no potencial de espécies como o cedro australiano e nos alto valores de mercado geralmente baseados no preço de madeira serrada, para fazerem seus cálculos de rentabilidade e estudarem a viabilidade de entrar no negócio. Obter toras de madeira de bom volume e qualidade é o primeiro passo para o sucesso, considerado por muitos também a etapa principal. Entretanto outros gargalos existem após a produção das árvores. O desdobro e a secagem da madeira também são fundamentais para a definição do produto final.

Para serrar uma árvore, é prioritário saber qual uso será dado a sua madeira. Quem compra madeira seca, normalmente adquire peças com dimensões maiores do que o produto acabado. Da mesma forma, no momento de serrar a madeira, é preciso pensar em excedentes para perdas que ocorrerão no processo de secagem, especialmente devido aos defeitos originados pós-desdobro.

Ter um equipamento de qualidade para o desdobro é importante. A espessura das peças deve ser constante para não influenciar na secagem da madeira e isto depende da serra. Dependendo do tipo de serra e técnica utilizada, peças de várias dimensões (pranchas, tábuas, sarrafos, etc) e níveis de qualidade podem ser obtidas em uma mesma árvore. Para isso é fundamental que seja realizada uma boa triagem durante o processo de corte.

Uma vez que uma tora foi serrada, a madeira obtida segue imediatamente para a etapa seguinte, a secagem. Esta pode acontecer ao ar livre, em galpão coberto, em secadores comerciais, artesanais ou improvisados, através do uso de ventiladores industriais, etc. Cada tipo de secagem possui suas características próprias, sendo suas nuances importantes no processo. De forma geral, independente do local, a secagem de madeira acontece em pilhas. As peças de madeira verde são separadas umas das outras dentro da pilha através do uso de travessas de madeira conhecidas como tabiques, que permitem o fluxo de ar e favorecem a secagem e fumigação. É muito importante que a superfície onde as pilhas serão montadas seja regular e nivelada.

Os tabiques consistem numa parte importante do processo de secagem. Precisam ter qualidade, devendo ter dimensões regulares e com largura e altura proporcionais ao tamanho das peças que precisam secar. Tábuas finas exigem tabiques mais finos do que pranchas de maior espessura. O comprimento do tabique deve ser igual à largura da pilha. A altura e largura da pilha também devem possuir dimensões que permitam maior estabilidade da pilha e facilidade de seu deslocamento.

Para evitar a flexão desigual das tábuas durante a secagem, os tabiques devem possuir alinhamento vertical ao longo da altura da pilha, e serem distribuídos em bom número sobre as tábuas. Tábuas mais finas exigem menor distância entre tabiques do que pranchas mais largas.

Peças de madeira vindas de diferentes posições de uma árvore podem apresentar diferentes comportamentos durante a secagem. As tensões de crescimento existentes na madeira podem favorecer defeitos pós-desdobro como empenamentos, torção, encanoamento, rachaduras de superfície, entre outros, especialmente em pilhas mal montadas e mal padronizadas. Após a montagem de uma pilha de madeira, amarrar as peças já padronizadas reduz a ocorrência de deformações no processo de secagem. Usar tabiques nas pontas das pilhas também evita torções nesta região, minimizando perdas nas pontas das peças.

O tempo de secagem da madeira dependerá de vários fatores, entre eles das dimensões das peças de madeira, dos tabiques, da pilha, de sua montagem, e do local onde a secagem será realizada. De forma geral, secar a madeira de forma mais lenta e em condições amenas, reduz a ocorrência de defeitos pós-desdobro e secagem. Ou seja, é preferível manter a pilha em galpão coberto e aberto do que no sol.

Por fim, uma pilha de madeira bem montada, padronizada e amarrada, influencia diretamente no tempo de secagem e na qualidade da madeira produzida.

Com a comercialização da madeira do cedro australiano, o conhecimento de técnicas de desdobro próprias para a espécie se fez necessário. Em uma madeira de grande valor agregado, aperfeiçoar a qualidade é sinônimo de otimizar os lucros. Como a tendência do mercado é a comercialização de produtos e não de árvores, realizar o desdobro e a secagem irão agregar muito valor. A boa notícia para os produtores da espécie é que as técnicas para secagem da madeira do cedro australiano são simples e não requerem grandes investimentos. A secagem sem uso de secadores tem mostrado excelentes resultados em pilhas bem padronizadas para a produção de pranchas, tábuas para forros e sarrafos. O tempo de secagem da madeira é de 6 à 12 meses em galpão coberto e aberto, podendo ser acelerado para algumas semanas com o uso de secadores artesanais. Vale ressaltar que comercializar a madeira serrada verde, pode gerar reclamações futuras dos compradores, pois esta ainda sofrerá deformações e perdas até sua completa secagem.

A lição mais importante que o produtor deve tirar é que para comercializar madeira, ele deve conhecer seu mercado, seu produto e o principal, se organizar para durante o período de produção das árvores, trabalhar na estrutura necessária para a secagem da madeira, técnica que com certeza irá multiplicar os lucros de seu empreendimento.

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