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PORQUE PLANTAR ESPÉCIES ALTERNATIVAS – ARTIGO REVISTA DA MADEIRA – FEV/2015

Porque plantar espécies alternativas?

Via de regra essa resposta passa pelo argumento do alto preço da madeira que gera uma alta taxa de retorno no projeto florestal.

Espécies florestais alternativas, ou espécies tropicais de alto valor, como cedro australiano, mogno africano, guanandi, teca e outras, realmente conseguem valores em sua madeira bem maiores que espécies tradicionais como pinus e eucalipto. Mas será esse fator suficiente para o investidor escolher esse tipo de empreendimento? Nós da Bela Vista Florestal entendemos que não.

Há mais de 15 anos no setor, a Bela Vista é hoje sócia e gestora de mais de 7.000 hectares de florestas de eucalipto em Minas Gerais. Em 2015 estamos finalizando uma transição; daqui em diante nossos plantios se concentrarão no cedro australiano (toona ciliata). O ponto em que estamos é mais uma etapa de um longo processo, que se iniciou em 2002, quando iniciamos nossos trabalhos com essa cultura.

A decisão de centrar esforços em uma espécie que pode melhorar a lucratividade do negócio, levou em consideração os prós e também os contras que estão tirando o sono de muito empresário nesse país. Fatores como estagnação da economia, alto custo de produção, insegurança jurídica, falta de infraestrutura, encargos trabalhistas, escassez de mão de obra no campo e a baixa produtividade do trabalhador brasileiro, a dificuldade e morosidade para se resolver questões ambientais, e outros tantos que estamos cansados de enfrentar. A maioria dos problemas mencionados é comum à todos os setores e é nesse cenário que temos que pensar nossos projetos. Principalmente os florestais, que têm um longo prazo de retorno.

Frequentemente ouvimos que agregar valor industrializando o produto e ganhar escala são a resposta. Concordo com isso em parte. Ganhar escala nem sempre é uma opção, mesmo porque os melhores sites no país já estão ocupados e o custo da terra passa a inviabilizar o negócio. E agregar valor processando a madeira, num momento em que a atividade industrial é mais castigada que o agronegócio, pode não ser uma boa ideia. Das variáveis que podemos controlar, a escolha da espécie a ser cultivada é uma das mais promissoras para aumentar a lucratividade do negócio, desde que observadas algumas questões.

Na Bela Vista Florestal, desde 2002 investimos no Cedro Australiano (Toona ciliata). Nesses 12 anos, trabalhamos com um risco friamente calculado, sempre direcionado pelas seguintes premissas, que valem para qualquer “espécie alternativa”:

1)   A segurança tecnológica é imprescindível.

As espécies tropicais de alto valor (ou madeira nobre, ou madeira alternativa, ou como quiser chamar) não são culturas dominadas, como o eucalipto ou o pinus. Em sua maioria precisam de pesquisa para que representem menos risco para o produtor. No caso do cedro australiano, parcerias entre empresa e instituições como a Universidade Federal de Lavras – UFLA, a Universidade Federal de Viçosa – UFV e o IFMG, vêm gerando desde 2006 informações sobre implantação e manejo da floresta, nutrição, qualidade da madeira e melhoramento genético, em quantidade e qualidade suficiente. Recentemente, a cultura no Brasil foi avaliada como risco médio/baixo pelo órgão francês ONF – Office National des Forêts.

2)   A madeira deve ser de ótima qualidade para os usos a que for destinada.

A madeira a ser produzida não será adequada para todos os tipos de uso. Nem precisa ser. O importante é saber onde essa madeira vai se encaixar no mercado brasileiro. Em nosso caso, ter uma espécie nativa (cedro rosa) cuja madeira é bastante similar, é uma vantagem. Entramos com o produto no lugar de uma espécie versátil e muito procurada, com seu mercado estabelecido, que está cada vez mais cara e escassa.

3)   A aceitação do produto pelo mercado depende de certificação de origem; padrão de qualidade e continuidade de fornecimento.

O cliente precisa poder contar com seu produto, seja em grande ou pequena quantidade. É importante buscar, conquistar e fidelizar aquele comprador que você conseguirá atender durante muito tempo. No prazo, cumprindo com um padrão de qualidade previamente acertado, sempre. Como se trata de floresta plantada, obter certificado de origem não será difícil. O que estamos percebendo de forma clara, é que o mercado está carente de fornecedores que apresentem todas as características acima.

4)   O mercado externo só é uma opção para quem tem grande volume de madeira.

Cotações internacionais de madeira são constantemente usadas como argumentos para se plantar essa ou aquela espécie. Nesse aspecto, algumas questões não são levadas em conta. Primeiro; essa cotação se refere à madeira de árvores centenárias, que não têm as mesmas características de plantios de 15 anos de idade. Segundo; essa opção só é viável para quem tiver um produto que, além de todas as características mencionadas anteriormente, tiver muito volume. Além de ser um processo mais complexo, a falta de infraestrutura brasileira aumenta os custos de exportação.  Por outro lado, apesar de não refletir o preço internacional, o mercado interno tem enorme demanda por madeira serrada. Como exemplo, o eucalipto aumenta sua participação nesse segmento numa taxa superior a 20% ao ano, apesar das limitações tecnológicas de sua madeira.

5)   A produtividade deve justificar a escolha da espécie.

A produtividade da espécie deve ser levada em conta junto com o valor da madeira. Se existe algum risco no cultivo de determinada espécie, este deve ser compensado financeiramente. Várias empresas e produtores dizem que a madeira dessa ou daquela espécie vale no mercado cerca de R$ 2.000,00 por metro cúbico serrado. Um número que parece ter sido adotado como padrão. Pode ser verdade, mas qual é a quantidade de madeira a ser produzida com esse valor? Volto a comparar com o eucalipto. Este uma cultura dominada, com baixo risco em seu cultivo. Sua madeira serrada pode ser vendida a partir de R$ 500,00/m3 e sua produtividade alcança tranquilamente 40m3 por hectare/ano. A escolha de outra espécie tem que passar pelo teste de produtividade vezes valor de venda, subtraindo o fator risco.

6)  É preciso trabalhar com números e expectativas reais!

Por fim, é preciso trabalhar com números factíveis. Não dá para entender a conta de produtores e empresas que esperam receita superior a R$ 500.000,00 por hectare, após cerca de 15 anos de investimento. Não é necessário apresentar números irreais para que a atividade se torne atrativa financeiramente.

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